14 de set. de 2018 por kami_padilha

O caso Jabari Bird e a violência doméstica


Jabari Bird é acusado de violência doméstica

Este é um dos textos difíceis de escrever.

Infelizmente, nesta quinta-feira, o ala-armador Jabari Bird foi acusado de agredir sua namorada no ambiente doméstico. Segundo relatório policial, o jogador do Celtics a manteve presa em seu apartamento por quatro horas, período em que teria a estrangulado por doze vezes, além de agredi-la de outras maneiras.

Os relatos da namorada são bastante pesados.

Segundo a vítima, que não foi identificada, tudo se iniciou com uma briga sobre “confiança” que evoluiu para as agressões. Consta no relatório que Jabari a teria estrangulado com uma das mãos, jogando-a repetidas vezes contra a parede. As agressões seguiam um padrão: quando a vítima perdia os sentidos, o agressor aguardava a recuperação para, então, reiniciar a violência.

A vítima, num dos momentos mais tensos do relato, recobrou a consciência sob a cama do casal. Ao tentar sair, recebeu inúmeros chutes no estômago, tendo, na sequência, sido segurada pelo jogador e encarcerada no banheiro. Quando conseguiu se libertar, a jovem encontrou seu agressor convulsionando e o deixou em sua cama antes de procurar ajuda.

O atendimento à vítima foi prestado pelo Boston Children’s Hospital e pela autoridade policial local. Inclusive, durante a análise médica, a jovem recebeu mensagens de Jabari, que ameaçava cometer suicídio caso ela não voltasse para a casa. A comunicação foi encaminhada ao Boston Celtics, que prontamente, encaminhou o atleta ao hospital, onde se encontra sob monitoramento policial.
Nesta quinta-feira (13/09/2019), o Tribunal Municipal de Brighton, na presença de Jabari, arbitrou fiança de US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares), proibiu o contato com a vítima e eventuais testemunhas, vetou o uso de drogas e álcool, além de terminar a continuidade do tratamento psiquiátrico. Para sair do estado de Massachusetts, o jogador deverá avisar as autoridades com antecedência.

Da nova política da NBA com relação a acusações de violência doméstica, agressão sexual e abuso infantil

A princípio, estes são os relatos das acusações contra o promissor jogador do Boston Celtics, que acabara de firmar contrato de dois anos com um dos times mais importantes da liga.

Sobre o fato, o Boston Celtics divulgou o seguinte comunicado:

"Mais importante, nossos pensamentos estão com a vítima deste incidente. A organização Celtics deplora a violência doméstica de qualquer tipo, e estamos profundamente perturbados pelas alegações contra Jabari Bird. De acordo com a Política de Violência Doméstica no contrato de trabalho da NBA, as acusações são tratadas pelo Escritório da Liga, não pela equipe, e por isso o Celtics estará trabalhando com a liga e com as autoridades locais para ajudar nas investigações em andamento. A equipe não fará mais comentários neste momento.”

Segundo o comunicado do Boston Celtics, quem trata das acusações de agressão é a própria NBA. Obviamente esse não é o primeiro caso de violência doméstica na liga. Em 2016, Darren Collison foi suspenso pela liga por oito jogos, além de cumprir serviços sociais como pena. Na última temporada, Willi Reed foi suspenso por seis jogos e, logo após, dispensado pelo Pistons, ficando desempregado.

A maior punição foi aplicada em 2014, quando a NBA suspendeu Jeffery Taylor por vinte e quatro jogos por agressões a sua namorada e a um oficial de segurança, assim como por danos causados num quarto de hotel.

A NBA e o Sindicato dos jogadores aprovaram recentemente, em dezembro de 2017, uma política sobre acusações de violência doméstica, agressão sexual e abuso infantil, incluindo algumas medidas consideradas progressivas:

1)   A criação de um comitê, formado por duas pessoas da NBA, duas pessoas do sindicato dos jogadores e três especialistas em violência doméstica, agressão sexual e/ou abuso infantil. Os jogadores podem procurar o comitê, serem encaminhados após uma condenação criminal ou pelo próprio comissário após a chamada “determinação disciplinar”. Caberá ao comitê escolher um especialista para avaliar os jogadores encaminhados e desenvolver um plano de tratamento e responsabilidade, que poderá incluir avaliações psicológicas – ou outras – e aconselhamento. O descumprimento do plano resultará em punições progressivas ao atleta, como avisos, multas e suspensões de jogos. O órgão também irá supervisionar programas de educação e treinamento.

2) A criação de uma linha telefônica confidencial para denúncias de violência doméstica, agressão sexual e abuso infantil. Já existe nos EUA canais específicos para este tipo de denúncia, porém a NBA manteve essa medida.

Há também uma parte da nova política, bastante parecida com a adotada na NFL, onde o jogador agressor “implora perdão” ao comissário da NBA. Com relação ao número de jogos de suspensão, a NBA costumava limitar seu envolvimento após as condenações. O antigo CBA aplicava uma suspensão mínima de dez jogos. Agora, serão sopesadas várias questões como, por exemplo, os fatos e as circunstâncias, as agravantes e atenuantes, dentre outros.
O comissário poderá colocar um jogador em licença administrativa durante a investigação, o qual, caso não coopere com as diligências, poderá ser punido. Adam Silver pode punir qualquer jogador que viole a política. Pode também punir qualquer um que seja considerado culpado em um julgamento, declarar-se culpado ou não contestar os fatos, pois tais situações são definidas como violações da política. A absolvição obsta qualquer punição administrativa. Ou seja, a NBA está ligada na questão e de certa forma na prevenção de violência doméstica e também na ressocialização do agressor, disponibilizando tratamentos médicos específicos.

Ressocialização do agressor e o futuro do jogador

No caso em pauta, o que Jabari Bird fez foi além de agredir uma mulher, foi efetiva tortura por mais de quatro horas. Se a suspensão de Jeffery Taylor foi de vinte e quatro jogos, a suspensão de Jabari será bastante significativa e, caso se confirmem as alegações da vítima, acredito que o próprio Celtics rescindirá o contrato com o ala-armador.

Porém, toda história tem duas versões, eu como advogada, aprendi a sempre buscar visualizar a situação de todos os panoramas. Jabari se declarou sobre os fatos:

“Estou tirando algum tempo longe da equipe enquanto lidei com meus problemas legais e médicos. Peço desculpas à minha família, à organização do Celtics, aos meus colegas de equipe, aos fãs e à NBA pela distração desnecessária que causei. A informação que foi divulgada não conta a história completa. Eu não tolero a violência contra as mulheres. Espero que, no devido tempo e no processo, eu possa recuperar a confiança de todos.”

O que ele fez foi horrível, eu como mulher cheguei a chorar ao ler o relato da vítima e imaginar não só a dor, mas o desespero e a angústia que essa mulher experimentou. Ser violentada por quatro horas, tentar fugir, ser presa... A conduta é desumana, pois se aproveitou da força e tamanho para praticar tamanha violência.

Mas e o futuro dele? Me parece remota a chance de voltar a atuar pela NBA.
Aqui no Brasil tivemos o caso do atacante Juninho, do Sport. Acusado de violência doméstica contra a namorada, ao ser sondado – e quase contratado – pelo Corinthians, boa parte da torcida do time paulista interviu e o time acabou encerrando as negociações.

Até que ponto devemos excluir um jogador/agressor do esporte? Não seria o esporte uma forma de ressocialização? As equipes e a liga devem ajudar o jogador?
No episódio relatado, o Corinthians emitiu uma nota neste sentido:

"Ao entabular negociações com o atleta Juninho, o Corinthians visava não só atrair um promissor talento futebolístico, mas também encetar um processo de ressocialização dele. Sabedor de antecedentes desabonadores no seu passado, acreditamos que um jovem devidamente orientado teria condições de mudar de banda e, em vez de frequentar o grupo dos que tratam como corriqueira a agressão à mulher, pudesse se tornar um exemplo de evolução moral.”

A pressão da torcida, no entanto, foi tamanha que o Corinthians desistiu do jogador, que de certa forma perdeu a grande oportunidade de não só jogar em um time grande, mas também de encontrar auxílio e, quem sabe, tratamento adequado.
A NBA é bastante consciente de seu dever perante a sociedade e tem essa nova política de combate à violência doméstica, algo que nosso futebol ainda não tem. Tanto é que o jovem Juninho permanece trabalhando junto ao Sport.

O que nós, como sociedade, devemos fazer é educar nossos jovens a simplesmente RESPEITAR as mulheres. Não é preciso muito, é só respeitar. É difícil ser mulher e ser subestimada. É difícil comentar e falar sobre esportes e sempre ser questionada, como se tivéssemos que saber mais que homens sobre basquete ou futebol. É difícil ser mais fraca fisicamente que um homem. É difícil ir a jogos e ser assediada pelo simples fato de estar ali!

O caso do Jabari é terrível, é aterrorizante, mas infelizmente é comum e corriqueiro.
A mudança começa em nós mulheres que não podemos aceitar relacionamentos abusivos.

É preciso mudar a mentalidade para DENUNCIAR e ESTIMULAR a denúncia de qualquer tipo de agressão, física e moral.
Aos homens, meu pedido é simples: respeite a mulher que está ao seu lado.

Espero que a namorada de Jabari esteja bem e recuperada, enquanto Jabari seja punido civil, penal e esportivamente por seus atos.

Fontes: O caso Jabari Bird
Política da NBA - https://deadspin.com/the-nbas-new-policy-on-domestic-violence-sexual-assaul-1795378340

https://atlhawksfanatic.github.io/NBA-CBA/joint-nbanbpa-policy-on-domestic-violence-sexual-assault-and-child-abuse.html
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Um comentário:

  1. muito bom, como sempre, kami! me atento, principalmente, ao final: não é fácil ser mulher e sempre ser questionada. o esporte ainda é um dos locais em que isso mais ocorre, eu imagino...

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