17 de fev. de 2019 por Eric Miranda

A temporada do Celtics até aqui


Seria muito difícil achar um torcedor de Boston no início da temporada, que apostaria em um 4° lugar na Conferencia Leste já em fevereiro, após a trade deadline, na pausa para o All-Star Week. Talvez pelo time ter chegado a final de conferência, ficando apenas por um jogo da final da liga, embora não contasse com seus dois principais jogadores. As atuações dos jovens nos playoffs, principalmente Jaylen Brown e Jayson Tatum, que lideraram o time em pontos na pós-temporada. Além de Terry Rozier, que mostrou ser uma grande alternativa para a armação do time quando Kyrie esteve fora, especialmente nas atuações contra o Milwaukee Bucks, que te geraram o apelido de “Scary Terry”. Fora as boas surpresas de Marcus Morris, a experiência de Al Horford e o trabalho defensivo de Marcus Smart. Em suma, quando a expectativa está alta, basta um começo de temporada de altos e baixos, algumas derrotas inesperadas e um ambiente fora de quadra conturbado para estragar tudo. Mas calma, muitas dessas questões não possuem resposta agora. O que temos, hoje, é que o pior já passou, e eu vou te explicar por que.

O all-star Gordon Hayward, que na agência livre de 2018 assinou um contrato máximo com o Boston Celtics, não teve a temporada que todos esperavam em 2018. Em apenas alguns minutos com a regata da sua nova franquia, Gordon teve uma grave lesão no tornozelo, que o tirou de toda temporada. Após uma cirurgia delicada, além de um processo de recuperação lento, ele reestreou com a camisa celta. Mas, quando vemos Hayward em quadra, é impossível não lembrar das grandes jogadas que fez em Utah, quando defendia o Jazz. Hoje, não temos esse Hayward, talvez nunca mais teremos esse jogador, mas o cenário atual diz o contrário. Após um início de temporada vindo do banco, com limitações visíveis em quadra, Hayward mostra uma certa evolução nos últimos meses. De dezembro até agora, Gordon passou de 10.4 pontos por jogo (37% FG) em 26 minutos para 14.6 pontos por jogo (57% FG) em 27 minutos. Os números mostram uma evolução do seu jogo que, por conta da lesão, foi modificado, pelo menos nesse início. Ele ainda não tem a explosão que tinha para atacar a cesta, nem o físico que mostrou no início da temporada passada, mas o seu jogo do perímetro tem evoluído bastante e é responsável pelos números positivos nos últimos meses. Ter Gordon Hayward saudável e em boa fase vindo do banco pode ser um adicional melhor que todas as opções que o Celtics tinha na trade deadline.

Outro ponto importante da temporada do Celtics até aqui é seu franchise player, Kyrie Irving, e sua polêmica renovação de contrato ao final da temporada. Antes da temporada começar, em um evento feito no TD Garden para apresentar o elenco aos torcedores, Kyrie sinalizou uma possível renovação com a franquia: ‘Se vocês me quiserem, eu planejo renovar e continuar aqui no próximo ano’, disse Kyrie para os torcedores que estavam no ginásio. Por conta dessa declaração, a dúvida sobre sua renovação foi deixada de lado, haja que o jogador deu um voto de confiança aos torcedores e ao general manager, Danny Ainge.

A questão é que, em um dos momentos críticos da temporada, antes da última partida contra o Knicks, Kyrie não repetiu o discurso feito em Outubro. “ No final do dia, vou fazer o que for melhor para a minha carreira. Passei os últimos oito anos tentando fazer o que todo mundo queria que eu fizesse, em termos de tomar minhas decisões e tentar validá-las através da mídia, de outras pessoas, gerentes ou qualquer pessoa neste negócio, e eu não devo m**** nenhuma a ninguém”, afirmou Irving. Essa declaração, claro, deixou todos os torcedores de Boston sem entender nada, afinal, tudo que o all-star disse no início do ano tinha ido por água abaixo. Dentro de quadra, Kyrie mostra que é um dos destaques da liga na posição, liderando o Celtics em pontos com 23.6 por jogo, além de ser decisivo em várias vitórias.

Por outro lado, Kyrie também mostra que ainda não está preparado para ser o líder dessa equipe, com algumas declarações que tumultuaram mais do que ajudaram a equipe durante a temporada. Após a vitória contra o Toronto Raptors, adversário direto pela conferência Leste, Kyrie voltou a dar declarações na imprensa, agora citando seu ex-companheiro, LeBron James: ‘Obviamente isso foi importante para mim, porque eu tive que ligar para ele e me desculpar por ter sido imaturo quando éramos companheiros. Eu queria ser o cara que iria levar um time ao título. Eu queria ser o líder. E a responsabilidade de ser o melhor jogador no mundo e liderar sua equipe não é para muitos’. Essa entrevista, claro, deu muita corda pra imprensa americana criar boatos de uma nova parceria dos dois, mas não foi bem recebida pelo elenco celta, principalmente pelos jovens. O que fica é: Kyrie é espetacular em quadra, indiscutível sua importância para a franquia, mas, diante dos microfones, parece não saber lidar muito bem.

Se Kyrie Irving deixa a desejar na liderança desse time, o espírito de liderança sobra para a grande surpresa da temporada até aqui, Marcus Morris. Embora já apresentasse uma evolução no playoffs da temporada passada, Morris iniciou a temporada vindo do banco. Com os melhores números da carreira, além de um início abaixo do jovem Jaylen Brown, Morris ganhou a titularidade ainda no começo da temporada e é a terceira opção do ataque do Celtics atualmente com 14.5 pontos por jogo. Após as duas derrotas seguidas para as franquias de Los Angeles — Clippers e o maior rival, Lakers — Morris foi até a imprensa e deu uma declaração que mexeu com o elenco celta, mas, dessa vez, de forma positiva. “Eu vejo outros times da liga e os caras estão de pé no banco de reservas, aproveitando tudo, jogando pra ganhar e como um grupo. Quando olho pra nós, vejo várias peças isoladas”, disse Morris.

Após a declaração, o ala-pivô Al Horford também veio à público e disse concordar com Morris, além do técnico Brad Stevens, que assinou embaixo. Certo ou não, a atitude mudou completamente a postura do Celtics em quadra nos dois jogos que se sucederam, sendo um deles uma vitória maiúscula contra o Sixers, na Philadelphia. Dessa forma, Morris mostra que, além de ser importante dentro de quadra, possui papel fundamental fora dela, principalmente com os jovens do elenco.

São justamente os jovens do elenco celta que serão o objeto de análise agora, em especial Jayson Tatum e Jaylen Brown. O primeiro, que vive talvez sua melhor fase na temporada, teve um início abaixo do que apresentou nos playoffs da temporada passada, quando liderou o time com médias de 18.5 pontos por jogo — 35.9 minutos por jogo e 47% dos arremessos de quadra. Entretanto, Jayson ainda é a segunda opção ofensiva do Celtics, contribuindo com 16.5 pontos por jogo em 31.2 minutos. Mesmo que seja lembrado sempre, vale ressaltar que ele tem apenas 20 anos e, piadas à parte, é normal que tenha alguma irregularidade. É um jogador que o Celtics precisa para o seu ataque funcionar, principalmente em uma possível serie de playoffs, que Tatum já demonstrou não pesar muito para ele.

Já Jaylen Brown, que também foi importante nos playoffs, talvez seja uma das decepções desse ano. Com um início ruim de temporada, com um aproveitamento de quadra pior em relação à temporada passada —12.7 (45,0% FG) em 30.7 minutos contra 14.5 (46,5% FG) em 26 minutos nessa temporada. Além de escolhas erradas em quadra, o que fez com que perdesse sua vaga de titular para o Marcus Morris. Contudo, vem retomando o jogo agressivo e atlético característicos, dessa vez vindo do banco. Ao lado de Gordon Hayward, Terry Rozier e Daniel Theis, Brown é peça importante do banco de Brad Stevens.

Por fim, não é hora de se desesperar, como disse, o pior da temporada já passou. Nos últimos 15 jogos, o Celtics ganhou 12 deles, sendo dois contra adversários diretos no Leste. Além disso, contra Bucks, Raptors, Pacers e Sixers, o Celtics possui um recorde positivo de 6 vitórias contra 2 derrotas. Se Kyrie vai renovar ou não, é um problema para a pós-temporada. E convenhamos, um jogador que não escolhe a franquia mais vitoriosa da liga, uma cidade apaixonada por esportes, um contender com peças jovens e com um dos melhores treinadores da Liga não deve estar à frente do Boston Celtics. Agora, como ele mesmo disse, é estar focado para ‘vencer um título com essa equipe’. E esse objetivo passa por conseguir restabelecer a química no vestiário, conquistar o mando de quadra nos playoffs e estar saudável. Se esses requisitos forem cumpridos, provavelmente teremos o Celtics como representante do Leste nas finais da Liga.
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