3 de dez. de 2018 por Victor Manresa

Kyrie Irving em sua melhor versão: o amante de basquete precisa se acostumar com esse novo jogador



A temporada de 2018-19 mal havia começado e o torcedor celta já estava cheio de expectativas para ela. Elenco completo, um núcleo jovem e competitivo, três all-stars, um treinador considerado um gênio... fatores que compõe o time do Boston Celtics para esse ano. Um time candidato a títulos. E sim, títulos. No plural. Porém o que se viu até aqui foi bastante irregularidade e, como dito por Brad Stevens, é algo até esperado e compreensível tendo em vista as mudanças de estilo de jogo que o time teve que se submeter adicionando dois jogadores com muito volume de jogo como Kyrie Irving e Gordon Hayward e a mudança no papel de jogadores muito importantes na temporada passada como Terry Rozier, Jaylen Brown e Jayson Tatum.

Até o momento, pouco mais de 1/4 da temporada (ou 23 jogos) já entrou para o livro de histórias da NBA e algo que vem chamando muito a minha atenção e de quem acompanha este time do Celtics perto foi como Kyrie Irving evolui seu jogo de uma maneira geral da temporada passada para a atual.

A história de Kyrie Irving na NBA vocês já devem conhecer. Primeira escolha do Draft de 2011, Novato do Ano, 5 vezes escolhido para o jogo das estrelas e 6 anos jogando no Cleveland Cavaliers, sendo quatro deles ao lado de LeBron James. Mas durante a offseason de 2017, o armador pediu ao front office da equipe de Ohio para ser trocado e lá foram Danny Ainge e o Celtics.

Até esse ponto todos conhecem. Pouco mais de um ano se passou e atualmente estamos vendo a melhor versão da carreira de Kyrie Irving. O armador de 26 anos sempre foi conhecido na liga como o melhor controlador de bola e por seu arsenal ofensivo, matando cestas de todas as formas possíveis e imagináveis, inclusive cestas decisivas. Entretanto, nessa temporada, o Uncle Drew parece finalmente ter alcançado o próximo nível.

Liderança


Kyrie é hoje muito mais do que apenas "o Robin do LeBron", como era visto em seus quatro últimos anos em Cleveland. Após ter sua liderança questionada por mídia e torcedores na última temporada, Irving demonstra muito amadurecimento nesse quesito. O armador deixou de ser um simples líder técnico e a cada semana mostra sua liderança em quadra, no vestiário e a relação, influencia e respeito que tem no elenco.

Um exemplo perfeito aconteceu na última semana quando ele conversou com Gordon Hayward sobre sua fase e para buscar mais arremessos e menos passes durante as partidas. A conversa surtiu efeito rápido e nas duas partidas seguintes Gordon teve duas belas atuações, incluindo uma de 30 pontos, e mostra que está recuperando a confiança, principalmente para atacar o aro.

Outro exemplo claro também aconteceu na última partida contra o Minnesota Timberwolves. Durante o quarto período, a equipe estava levando uma corrida de 10 a 0 dos Wolves para empatar a partida enquanto Kyrie estava fora da quadra. O armador entrou de volta durante os lances livres de Gorgui Dieng e começou a gritar com o resto do time pedindo mais foco. O resultado disso foram 8 pontos seguidos do Celtics.


Playmaking


Essa foi uma das partes mais impressionantes do jogo de Kyrie que está com uma evolução nítida nessa temporada. O armador de 26 anos tem está fazendo um trabalho incrível ao criar oportunidades para o resto da equipe e controlando o ritmo da partida com a bola nas mãos. Nessa temporada, Irving já terminou quatro das 22 partidas realizadas por ele até aqui com pelo menos 10 assistências. Algo muito significativo se olharmos para os números da temporada passada, em que ele chegou à marca de 10 assistências em apenas uma de suas 60 partidas realizadas.

Algo que o está ajudando bastante é a forma como Aron Baynes e Al Horford (dois especialistas nesse fundamento) conseguem abrir espaços para ele a partir de bloqueios para receber passes correndo para dentro da cesta (como no vídeo abaixo), recebendo passes para anotar em arremessos de média ou longa distâncias, criando o espaço na marcação do armador adversário e Kyrie ou apenas para que ele possa ampliar sua visão da quadra e realizar um passe para os alas.


Seus já conhecidos passes no jogo de transição também seguem com bastante destaque nessa temporada (como mostra o vídeo abaixo). Kyrie registra em 2018-19 suas melhores médias de assistências na carreira (6.4).


Defesa


Ao lado de sua nova habilidade como playmaker, talvez essa seja a evolução mais impressionante. Sua defesa foi um dos pontos negativos apontados desde sua chegada à Boston, mas com potencial para melhorar. E foi o que de fato aconteceu após mais de uma ano sob a tutela de Brad Stevens.

Kyrie deixou de lado o status de "buraco defensivo" que carregava quando se juntou ao Celtics. Claro, que ele ainda não é um defensor de elite ou um exímio defensor em situações de um contra um. E nem deve alcançar nenhuma dessas duas facetas durante sua carreira, mas se tornou um bom defensor coletivo. Sempre muito focado e esforçado na parte defensiva durante as partidas, Irving tem impressionado por sua defesa sólida durante essa temporada, angariando até suas melhores médias de carreira em tocos (0.5) e roubos de bola (1.7) por partida. Atualmente, o armador celta é o oitavo melhor jogador da liga cortando linhas de passe e o segundo na recuperação de bolas perdidas.



Médias de carreira vs. Médias dessa temporada


Carreira: 22.0 pontos, 3.5 rebotes, 5.5 assistências, 1.3 roubos de bola, 0.3 tocos, 2.7 desperdícios de bola, 46.3% dos arremessos de quadra convertidos, 38.8% nas bolas de 3 e 87.3% na linha de lance livre.

2018-19: 22.2 pontos, 4.8 rebotes, 6.4 assistências, 1.7 roubos de bola, 0.5 tocos, 2.6 desperdícios de bola, 48.1% dos arremessos de quadra convertidos, 38.8% nas bolas de 3 e 82.4% na linha de lance livre.

Além de todos esses fatores de evolução, Kyrie não deixou de lado as suas qualidades já conhecidas. Mesmo com um início de temporada bem ruim em relação seu arremesso e pontuação, que fez suas médias nesses quesitos estarem abaixo do que podem, o Uncle Drew segue como um dos pontuadores mais divertidos de assistir na NBA. Irving possui o famoso "feeling" do jogo. Quando está pegando fogo, ele sabe o momento certo de forçar um arremesso longo ou quando precisa pontuar no final das partidas.

O que mais me leva a crer que Kyrie chegou ao próximo nível é o fato de que ele chegou à Boston como um dos melhores pontuadores da NBA e hoje talvez possa ser visto como um dos melhores jogadores da NBA no geral, e não apenas da sua posição. Em diversos momentos da última temporada, ele foi muito estereotipado como "apenas um pontuador" e, caso não estivesse em uma boa noite com seu arremesso, não conseguiria contribuir de outra maneira. Até se chegou a pensar que sem ele em quadra o time se saia bem melhor. Visão que mudou bastante nesse ano. Com ele em quadra, o Celtics está no top 10 da NBA em Offensive Rating*. Já sem ele em quadra, somos a penúltima equipe no quesito.

O que nos resta imaginar agora é até onde Irving conseguirá chegar e o quanto ele ainda pode expandir o seu jogo.

* - é uma estatística usada no basquete para medir o desempenho ofensivo de uma equipe ou a eficiência de um jogador individual em produzir pontos para o ataque. Foi criado pelo autor e estatístico Dean Oliver. Ela é medida em pontos x 100 posses de bola.
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