27 de jan. de 2018 por Victor Manresa

Conheça Benas Matkevicius: o olhar do Celtics no continente europeu


Nos últimos dois anos, foi comum o Boston Celtics apresentar um olhar atento aos talentos que surgem no basquetebol europeu. No Draft de 2016 selecionamos o francês Guerschon Yabusele e o croata Ante Zizic ainda em escolhas de primeiro round e nesse última Offseason em que fomos buscar o armador Shane Larkin, que estava jogando na Espanha, e o alemão (cheio de paixão) Daniel Theis, além de viagens de Danny e Austin Ainge (filho do Danny Ainge que faz parte do nosso front office) ao velho continente para assistir alguns jovens prospectos.

Poucos sabem mas, segundo apurado por Adam Himmelsbach do Boston Globe, esse olhar do Celtics para o continente europeu tem um único responsável com nome e sobrenome: Benas Matkevicius.

Benas poderia passar por Boston que ninguém iria saber o quão importante ele tem sido para as adições da franquia. Sua tarefa é simples mas exigi um trabalho muito duro e intenso. Ele identifica, acompanha e analisa jovens prospectos viajando por todo continente.

"Não é fácil", disse Matkevicius, rindo. "No começo, eu estava bastante espantado com toda a situação. Demorou um tempo para me organizar e descobrir os prós e contras de onde começar."

Por toda a questão logística, o Celtics foca a maioria dos seus esforços em prospectos do College americano usando a sua equipe de Boston, não podendo expandir isso para fora do país. Então, é dessa parte que Matkevicius fica encarregado. Ele é o único olheiro do Celtics na Europa.

"Benas tem uma ética de trabalho incrível. Ele realmente parece incansável", disse Danny Ainge.

Benas e Jonas Valanciunnas no
aquecimento da seleção lituana na Rio 2016
Ele nasceu na antiga União Soviética onde hoje se localiza o território da Lituânia mas, sua família foi morar na Alemanha para jogar no basquete profissional. Benas foi um bom jogador porém, teve sua carreira interrompida por causa de lesões. Ele, inclusive, chegou à jogar na segunda divisão da NCAA pela Universidade de Arkansas-Monticello.

Com sua carreira encerrada, Matkevicius se tornou assistente técnico, chegando a trabalhar no CSKA de Moscou. Atualmente, além do Celtics, ele também trabalha como assistente da seleção da Lituânia.


Na Offseason de 2012, Benas estava observando um torneio sub-18 na Polônia quando Austin Ainge se aproximou e apresentou-se. Eles trocaram experiências sobre scouts de jogadores e mantiveram contato. Austin ficou impressionado com o conhecimento de Matkevicius e, quando o Celtics abriu uma vaga para olheiro europeu em 2014, a escolha era clara. Para ele, essa ideia não parecia assustadora. Benas tinha um belo olhar para talentos e havia desenvolvido uma profunda rede de conexão.

Mas, haviam também alguns empecilhos no caminho. Ele tinha que reserva passagens, hotéis, organizar e pagar refeições enquanto estava sozinho. Coisas pelas quais nunca tinha passado como assistente e jogador. Além de scout, ele teria que programar e agendar suas viagens. Ele iria se deslocar por cidades distantes, portanto só poderia ir se houvesse algum jogador muito interessante nessas cidades.

"É mais difícil quando você trabalhar sozinho", disse Austin Ainge. "Benas é muito orientado para os detalhes. Ele apenas trabalha, trabalha e trabalha... e, pode ser difícil permanecer motivado quando se esta sozinho na estrada o tempo todo. Ele é incrível, nunca se cansa. Observa os vídeos constantemente em todas as viagens."

Benas mora em Berlim mas, sua casa é sempre temporária. Só nos últimos dois anos, ele viajou quase 300.000 milhas áreas, sem mencionar veículos terrestres. Cada dia de manhã, ele assiste o VT da partida do Celtics na noite anterior para conhecer bem o estilo e esquema de jogo da equipe e conhecer bem o tipo de jogadores que a equipe precisa. Depois disso, ele começa a procurar a box score de cada jogo na Europa, uma tarefa bem árdua. Ele ainda assiste replays de partidas da NCAA para ter uma referência na hora de avaliar os talentos europeus.

Mesmo com essa carga de trabalho pesada e cobrindo um território como o da Europa sozinho, Benas não esta totalmente isolado. Ele conversa quase todo dia com Austin Ainge e ainda envia e-mails ao staff celta de três à quatro vezes por semana. Austin dá instruções sobre algum jogador que ele está interessado ou Benas passa informações sobre um jogador que ele está observando.

Austin Ainge vai à Europa aproximadamente 5 vezes por ano para ajudar Matkevicius à cobrir uma área maior. O diretor de scouteamento Dave Lewin também viaja para o exterior para observar outros jovens talentos. Danny Ainge faz pelo menos uma viagem à Europa por ano. O Celtics ainda tem um olheiro no Brasil, o paulistano Luiz Lemes e nosso staff se aprofunda em nomes de todo o planeta. Mas, na Europa a responsabilidade de ver um jogador é de apenas uma pessoa. E essa é Matkevicius.

Para ele, viajar por toda a Europa pode ser solitário e revigorante ao mesmo tempo. Ele assistiu pelo menos um jogo em cada país europeu e, alguns ginásios são mais tranquilos do que outros. Austin Ainge lembrou de um jogo em Atenas, quando uma ameaça de bomba parou a partida e um jogo em Varazze, na Itália, quando um torcedor irritado arremessou um sapato no árbitro e o mesmo simplesmente arremessou de volto e o jogo continuou. Houve também um jogo de Playoffs da liga croata em que uma torcida iniciou uma fogueira na arquibancada com uma bandeira da equipe rival.

"E eles não pararam o jogo", disse Ainge. "Eles apenas vieram com alguns extintores e apagaram. Havia fumaça na arena, e eles continuavam jogando ".

Benas assisti centenas de prospectos por ano mas, é pouquíssimo provável que algum deles se torne um celta. Na maioria das vezes, o seu trabalho parece sem função.

"Quando você é um olheiro, 90% do trabalho é para riscar nomes da sua lista", disse Austin Ainge.

Os clubes europeus não estão focados em usar seu time como vitrine para as equipes da NBA. Então quando um garoto de 18 anos ainda não está pronto, o técnico não coloca ele para jogar. Ou, ainda temos as vezes em que Matkevicius viaja para assistir um jogador mas, ele acaba tendo algum problema físico e fica no banco. Por ser assistente-técnico da seleção lituana, isso acaba dando à ele mais oportunidades de assistir um prospecto de perto. Ser uma pessoa muito educada também é outro ponto à seu favor.

Tendo o lituano como língua natal, Benas também aprendeu alemão, inglês e está aprendendo espanhol para quebrar as barreiras linguísticas. Grande parte do processo de observação também passa pela comunicação. Por exemplo, se o Celtics estiver interessado em um jogador, irá conversar com os treinadores do mesmo sobre ele e, mesmo o idioma sendo familiar, as coisas podem se enrolar na tradução.

"As coisas que os treinadores e as pessoas valorizam nos jogadores são diferentes em todas as culturas", disse Austin. "Então, quando falo com um técnico assistente sobre um jogador, sobre as qualidades e os pontos fracos do mesmo, isso pode variar de país para país".

Isso também se apresentou como um desafio para Benas. Ele conhecia o estilo de jogo da NBA de uma maneira bem mais superficial e teve que aprender e adquirir bastante conhecimento.

Outro fato interessante é que quando ele esta trabalhando, prefere manter aquele estilo low-profile. Ele normalmente prefere vestir uma jaqueta esportiva do que uniformes do Celtics. Por exemplo, quando ele foi assistir Daniel Theis jogando em Bamberg (Alemanha) diversas vezes nos últimos anos e, Theis sabia que ele era um scout da NBA mas, não sabia de qual franquia.

Para ele, os momentos mais gratificantes em que ele vê seu trabalho realizado, é quando ele assiste à um jogo do Celtics e, Theis e Yabusele estão uniformizados. É como um lembrete de que seu trabalho trás resultados.

"Às vezes você se senta no avião, olha pela janela e percebe o tipo de trabalho que você tem", disse Matkevicius. "Nós todos vivemos em algumas bolhas, mas parece que você está vivendo em um universo diferente. A vida está passando pela janela, mas você ama essa vida de basquete e sempre quis viver isso".

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