18 de dez. de 2017 por Victor Manresa
"Minha primeira colega de classe" - por Jayson Tatum
Eu vi isso imediatamente. Logo que minha mãe estacionou o carro em frente à nossa casa e começamos a nos dirigir para a porta da frente. Estava lá.
Crescendo onde crescemos em St. Louis, você sabe sobre esse tipo de coisa, você ouve sobre isso. Mas, nunca havia visto isso antes.
Um pequeno pedaço de papel rosa colado na nossa porta.
Um aviso de despejo.
Minha mãe caiu em lágrimas quando viu aquilo. Antes era a luz era a luz sendo cortada, ou a água, sempre aparecia um problema atrás do outro. E ela estava sofrendo. Ela foi ao quarto. Eu podia ouvi-la chorar pela porta.
Eu também fui ao meu quarto. Estava tão chateado - com raiva de mim mesmo por ser tão jovem, incapaz de ajudar, não ter nenhum controle sobre a situação. Claro que eu era apenas uma criança, tinha apenas 8 ou 9 anos de idade, então não entendia toda a situação mas, sabia o suficiente sobre o que aquele papel rosa significava.
Onde vamos viver?
Com quem vamos ficar?
Quem vai cuidar da gente?
Antes de ir ao ensino médio, eu já frequentava a faculdade. Minha mãe me teve com 19 anos de idade. Ela era apenas caloura na faculdade, mas estava determinada a não se tornar outra estatística, nem acabar com o bem-estar e nem à abandonar os estudos.
Então ela começou a me levar para as aulas.
Desde o momento que eu era bebê até cerca de uns 8 anos, minha mãe ia para a aula, e eu ia junto com ela. Eu lembro de ficar no fundo da sala de aula, comendo lanches ou mergulhado em livros ou video games. Ficava quieto, ouvindo aqui e ali - para mim, a maioria dos professores pareciam aborrecidos e falavam muito. Mas, eu tinha as minhas coisas para me concentrar, ela tinha as dela. Então, foi o que fizemos. Como mamãe não tinha dinheiro para pagar uma babá e a vovó estava trabalhando, nós íamos à aula juntos.
Quando cheguei ao meu sexto ano na escola, minha mãe conseguiu seu diploma de bacharel em Direito pela Universidade de St. Louis.
Nunca vou esquecer da graduação da faculdade de Direito. Todos meus primos e avós apareceram. Quando eles chamaram o nome da minha mãe, eu me levantei da cadeira e gritei: "Eu amo você! Estou muito orgulhoso de você!"
"Você conseguiu" - foi o que disse à ela depois da formatura mas ela me corrigiu: "Nós conseguimos."
Acho que só fui entender realmente no ano passado (2015), com Duke à frente de mim nesse outono, o quanto mamãe trabalhou e o quanto ela passou até se formar.
Naquelas noites em que ela ainda estava estudando, nós sentávamos juntos na mesa de jantar. Cada um de nós fazendo sua lição de casa. Ela andava de um lado à outro da cozinha, preparando o jantar enquanto eu fazia perguntas sobre minha tarefa de matemática. (Mamãe era a melhor em matemática, ela sempre conseguia um jeito de explicar as coisa de modo que eu conseguisse entender). Quando chegava minha hora de dormir, ela me botava na cama e voltava pra mesa de jantar, onde ficava por horas estudando, lendo, certificando-se de que estava em dia com seus estudos.
Muitas vezes, ela me dizia: "Jay, não deixa que ninguém lhe diga o que você pode ou não pode ser. Independente do que for."
Quando ficou claro na escola secundária que o basquete estava se tornando uma parte maior da minha vida, suas palavras faziam ainda mais sentido para mim.
Eu jogo basquete desde que comecei a andar. Meu pai jogou na faculdade e, por alguns anos, foi profissional no exterior, e foi por isso que não o via muito nesse primeiros anos. Mas, há fotos minhas ainda bebê em seus jogos. Então, é certo dizer que o jogo faz parte de mim desde o início. Quando eu tinha 3 anos de idade, tive que jogar na liga sub-5 da nossa YMCA (sigla para Associação Cristã de Moços), porque era muito mais alto que os outros meninos da minha idade.
Quando minha mãe descobriu que tudo o que eu queria era jogar basquete, ela exigiu que eu também trabalhasse duro na escola. Ela não queria que as pessoas olhassem para mim e pensassem: "Ele é só um atleta. Tudo o que ele pode fazer é jogar basquete. Ele não consegue nem falar direito."
De repente, haviam novaAs regras de casa. Se minhas notas não estivessem onde ela queria, então não haveria torneios de basquete nos fins de semana.
"Ah, ta bom. Ok, mãe" - eu respondi sarcasticamente. "As mães dos meus amigos não têm essas regras."
Eu estava sendo um garoto.
Grande erro. Um dia, ela voltou pra casa depois de uma reunião de pais com meu boletim. Ela me mostrava os dois "C" que eu tirei.
Ela me sentou e começou uma dessas conversas - uma daquelas longas conversas de mãe. Você sabe o que quero dizer.
Quando meu torneio de basquete começou naquele final de semana, ela nem quis conversar. Ela realmente me deixou de fora. Sem piedade. Isso abriu meus olhos. Nunca subestimei minha mãe de novo. Só precisei de uma vez para aprender.
A partir de então, nos tornamos um time, igual o tempo em que ela estava me levando para as suas aulas. Naquela época, ela fazia tudo o que podia - trabalhava em dois lugar, arranjava empregos secundários limpando casas das pessoas, fazia os trabalhos da faculdade, além de todas as suas funções como mãe. Quando ela pegou o diploma, seu trabalho duro não cessou, então eu também precisava me dedicar.
À medida que estava ficando mais alto e forte, comecei a amadurecer de outras maneiras. Eu me esforçava muito com minhas tarefas da escola, para que ela não precisasse verificar tanto quanto antes. Tentei ser tão independente quanto pudesse para aliviar um pouco o seu fardo. Comecei a lavar e passar minhas roupas, encontrar meu próprio caminho para o ginásio, fazer meu próprio café da manhã e se ela trabalhasse até tarde, eu tentava preparar o jantar para quando ela chegasse (futuro colega de quarto na Universidade, você tem sorte: sei cozinhar excelentes tacos).
Meu jogo também melhorou.
No verão, antes das aulas começarem no ensino médio, fui convidado para um camp de treinamento de elite em Atlanta. Haviam crianças lá que já tinham seu próprio vídeo de melhores lances no YouTube, mixtapes, tudo. Eu reconheci alguns deles - Josh Langford, V.J. King, Bam Adebayo - por serem calouros no Ensino Médio. Eu apenas era conhecido como "o garoto novo". Ninguém sabia meu nome ou de onde eu vinha. Porém, ao final daquele fim de semana, senti que algumas pessoas passaram à conhecer meu nome. O basquete universitário entrava em meu radar e, talvez, talvez conseguisse uma bolsa de estudos.
Entrando em meu primeiro ano de Ensino Médio, mamãe me sentou para mais uma de suas conversas. O jeito que eu olhava para Kobe e LeBron, ela disse, que seria o jeito que as crianças menores de St. Louis passariam a olhar para mim: eu seria um grande jogador de basquete que conseguiu chegar longe.
O que eu fizesse fora de quadra, ela disse, seria tão importante quanto os meus números na box score.
Além do dever de casa, ela fez com que eu me envolvesse com o trabalho voluntário, ajudando um abrigo para sem-tetos e sendo mentor de jovens estudantes-atletas da nossa cidade. Eu visitava seus treinos e jogos, falava sobre os problemas que enfrentavam na escola. Às vezes, conseguia falar sobre atalhos e outras funções no time.
Eu não estava acostumado a dar conselhos. O que um garoto de 18 anos pode contar para outras crianças?
Eu sempre começava da mesma maneira, contando uma história.
Quando eu estava no ensino fundamental, meus professores costumavam passar ao redor da sala perguntando o que as crianças queriam ser quando crescessem. A maioria dos meus colegas diria algo como ser médico, advogado ou professores. Eu sempre dizia: "Quero ser um jogador de basquete profissional". Normalmente, a professora apenas sorria e dizia: "Isso é inspirador, mas pense em algo mais realista".
Então eu diria à esses jovens o que minha mãe sempre me disse:
"Não deixe que ninguém lhe diga o que pode ou não pode ser. Não importa o que."
"Eu sou como vocês", eu dizia. "Eu sou desse mesmo bairro, joguei nessas mesmas ligas, minha família teve as mesmas lutas que a sua teve. Não há nenhum segredo especial. Basta trabalhar duro e se empenhar. (E se você tiver sorte, terá uma mãe que vai fazer você se empenhar ainda mais).
Quando as ofertas de bolsas de estudo começaram a chegar, carta carta faria com que minha mãe chorasse. A chamada do Coach K (Duke) foi como um sonho tornado realidade - um sonho para qual ela me preparou durante todos esses anos, mesmo que não tivesse tanta certeza de que isso iria acontecer.
Eu pensei que as lições haviam acabado, mas eu estava errado. Mesmo quando eu já sabia que iria pra Duke, minha mãe continuava me preparando.
Ela entrou no meu quarto quando eu estava assistindo TV, pegou o controle remoto e perguntou: "Jay, se um repórter vem até você depois de um jogo e pergunta: 'O que estava passando pela sua cabeça nos minutos finais?' O que você diria?"
Na época, eu realmente não entendi o que ela estava fazendo. Eu só queria assistir TV.
"Mãããããããe, ninguém vai vir me fazer essas perguntas."
Mas ela persistia, então acabei respondendo. Ela segurava o telefone na altura do meu queixo como um microfone imaginário.
Olhando para trás, é muito engraçado, mas acho que ajudou a me preparar. Agora eu nunca fico nervoso quando tenho que falar com a mídia.
Minha mãe encontrou uma maneira de manter nossa casa depois de termos recebido esse aviso de despejo. Assim como os graus de sua faculdade, assim como suas noites trabalhando em vários empregos, ela encontrou um caminho.
A casa não era nada espetacular, apenas uma casa com dois quartos e um banheiro. Mas aquela casa era o nosso lar.
Às vezes, minha mãe e eu sonhamos em fazer algo para ajudar outras mães solteiras que estão tentando passar por esses obstáculos. Nós conversamos sobre transformar nossa casa em um lugar onde uma mãe e uma criança poderiam viver sem aluguel por um ano ou dois enquanto se reerguem financeiramente - então eles não terão que passar pelo que mamãe e eu passamos, perguntando se em 30 dias ainda teríamos uma casa. Espero que um dia o nosso sonho possa se tornar realidade.
Agora, Duke está no meu horizonte. E isso só foi possível por causa da minha mãe, minha primeira colega de classe na faculdade.
Então, obrigado mãe, por fazer de tudo para me manter alimentado, para ter a certeza de que sempre teríamos um lar, e por me fazer a pessoa que eu sou hoje.
... e com certeza. Eu fiz minha lição de casa. Eu prometo mantê-la atualizada sobre minha vida acadêmica na faculdade. Além disso, eu sei que você vai verificar se não o fizer.
Obrigado, mãe. Você conseguiu.
Erro meu. Nós conseguimos.
***
Essa carta foi escrita por Jayson Tatum no site The Players Tribune logo quando chegou à Universidade de Duke e postada no dia 15 de Abril de 2016. Quase um ano e meio depois, a vida de Tatum mudou bastante. Depois chegar à Duke como um dos principais destaques da sua classe, Tatum chamou a atenção do Celtics, que o selecionou na terceira escolha do Draft desse ano. Em Boston, Tatum é visto como um dos protagonistas para o futuro vencedor da franquia.
Link original da carta: https://www.theplayerstribune.com/jayson-tatum-duke-jordan-brand-classic/
Link original da carta: https://www.theplayerstribune.com/jayson-tatum-duke-jordan-brand-classic/
Monstro ��
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